sábado, 7 de julho de 2012

Karibu Zanzibar.

“Zanzibar”, imaginamos a palavra a ser dita pelos lábios sedutores de Xerazade, vestida de panos e decorada de jóias, entre odaliscas de formas sumptuosas, sentada frente ao rei. - Zan-zi-bar. O nome soa a estórias exóticas de culturas distantes. Soa a aventuras de velhos marujos levando cocos, cascos de tartaruga, conchas, marfim e ouro. Soa a tâmaras, óleo de baleia, tapetes e incenso, da Arabia; especiarias e sedas, da India. Ouvimos no nome as estórias de sultões e de seus palácios, habitados por dezenas de concubinas; perfumados de cravo-da-índia, gengibre, pimenta, noz-moscada e canela. - Simbad atracou seu barco em Zan-zi-bar… Zanzibar é essa Xerazade erótica, misteriosa, inteligente, cativante. E queremos ficar sempre mais uma noite, viver mais uma estória, sentir mais uma contradição em arrepio de pele. Se Zanzibar pudesse ser resumida apenas a uma palavra eu diria “karibu”, bem-vindo. Zanzibar é mistura de povos, Bantu, Persas, Árabes, indianos, europeus… e talvez por causa desta história de invasores, de ocupadores, de conquistadores, talvez por isso Zanzibar receba com tanta naturalidade o visitante. A hospitalidade aqui é sagrada e Karibo faz sorrir os rostos do povo suaíli, para mim desde esta viagem que as boas vindas soam assim: karibu. Não sabemos bem explicar porque, mas Zanzibar é poético, o nome tem magia e mistério, é sensual a maneira como as silabas dançam na boca, deixando na língua os sabores fortes das especiarias, no nariz os odores do mar e nos olhos… a luz branca da chamada “cidade de pedra”. O mais provável é acabar perdido aqui, nas ruelas brancas, logo nos primeiros dias da visita. Os prédios coloniais ainda reflectem a influência Otomana, a influência árabe tão clara nas casas, nas varandas, nas portas de madeira espessa, esculpidas de mil formas, nas lojas e mesquitas, nos templos e igrejas. Sim, esta mistura cultural permite também a mistura de credos, de hábitos, de práticas religiosas. A liberdade religiosa da ilha está marcada pelas mais de 50 mesquitas, igrejas católica e protestante, templos hindus, ismaili, pharsee, sunnis. Ao lado da Mesquita Ibadhi a igreja católica romana, Catedral de São José, e não muito longe o Templo Hindu Shakti. Em Zanzibar quando o vento despenteia os coqueiros, as especiarias perfumam o ar, e estas igrejas, as mesquitas, os templos cantam em contratempo diferentes melodias que chamam a mesma fé. No ano 2000 a Cidade de Pedra foi declarada área de protecção pela UNESCO, preservando as características desta cidade única. Caminhar por estas ruas é sentir o tempo fugir, entrar nas lojas de antiguidades é como descobrir um navio, há muito perdido no mar, recheado de móveis, jóias, armas, … tudo perfumado de passado, marcado pela água, envelhecido pelo tempo. Zanzibar são palácios de sultões transformados em hotéis. É visão de mar aberto, azul, transparente e calmo, pontilhado de velas triangulares dos “dhows” – barcos que fazem o transporte de pessoas e mercadorias desde remotos tempos. Conta a historia que as kangas – ou capulanas como chamamos em moçambique – nasceram aqui, no seculo 19, que foram as mulheres de zanzibar que tiveram a ideia de usar os lenços, que eram vendidos em pecas enormes e só depois cortados em partes, em grupos de seis lenços, criando um único pedaço de pano. Mais tarde, diferentes tipos de lenços eram cosidos entre si, criando padrões personalizados. E mais tarde ainda, um único padrão central foi criado, com uma borda decorada. Mais tarde as frases suaílis foram acrescentadas aos padrões de cores vibrantes. Estas frases são geralmente provérbios, mas têm múltiplos significados e são em geral mensagens… simbólicas, nas suas formas e cores, nas suas palavras e símbolos. Aqui as kangas são o presente ideal, os maridos oferecem-nas as esposas, as crianças a suas mães, as amigas entre elas. É na kanga que se dorme a sesta, que se enrola o jovem circuncisado, que se carrega o bebé, que se limpa o corpo depois do banho, ou se protege a cabeça do sol, ou os cabelos dos olhares dos homens. Zenj, a terra dos pretos - é assim que Ptolomeu se refere a zanzibar no seu guia de geografia, nome do qual Zanzibar é derivado, provavelmente. São muitas as estórias que as pedras contam, disso sabemos, e se nos sentarmos ao anoitecer olhando o mar, ai mesmo, nas praias paradisíacas de água azul e areia muito branca, podemos ouvi-las. Zanzibar é encontro e desencontro. Sim, e também porto de despedidas, de lagrimas e medos. As pedras contam dos barcos carregados de escravos, homens, mulheres, crianças, tratados como mercadoria... Sim, hoje perdemo-nos nas praias, é inevitável. Nas praias a vida passa, os olhos negros, rasgados, espreitam o mundo de dentro das burcas escuras que misteriosam as mulheres. Os cabelos não vemos, as pernas não vemos, os braços esguios pendem das mangas longas. Crianças correm atropelando os passos nos tecidos pesados. As dhow tradicionais deslizam pelas águas calmas, espelhadas. Zanzibar e um conjunto de ilhas, Unguja, a maior, Pemba e muitas outras, pequenas. Zanzibar flutua, vulcânicas, frente a Dar es Salaam, foi um dia independente mas pertence a território suaíli agora. Areia branca nas praias desertas, plantações de especiarias, coqueiros dourados pelo sol e crianças que sorriem. Zanzibar são mergulhos na espectacular vida marinha da costa africana, zanzibar são tardes de sol, pés na areia branca, a beber água de coco. Zanzibar é isso.